segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Birdwatching – Fotografar Aves, Desafio e Paixão


Para contar um pouco sobre birdwatching e o grande desafio e curtição que é fotografar aves, convidei Claudia Komesu, cuja paixão por fotografia e meio ambiente a levou a descobrir , há anos, uma atividade que hoje é fundamental em sua vida – o birdwatching (observação e fotografia de aves). Neste artigo ela conta o que é birdwatching e dá dicas de como fotografar essas lindas aves coloridas que alegram nossos campos e matas, e até mesmo ambientes urbanos.

Meu nome é Claudia Komesu, 35 anos, moro em São Paulo. Sou editora. Trabalhei para a Publifolha, editora do grupo Folha, e para a LCA, uma consultoria econômica. Sou fotógrafa amadora, às vezes bem amadora, mas totalmente apaixonada pelas aves e, desde as discussões sobre o Código Florestal, fico pensando em formas de ajudar em proteção do meio ambiente. Sou a idealizadora, editora e mão-de-obra da Virtude-AG, um site dedicado à divulgação do birdwatching (palavra inglêsa que significa “observação de aves”), e que traz fotos e depoimentos de outros apaixonados pelo tema como eu. Um trabalho de formiguinha, mas sonho que no futuro ele possa contribuir para haver mais birdwatchers agindo a favor da natureza.
O que é uma boa passarinhada?
Uma boa passarinhada é um passeio em busca de avistamento de aves, uma atividade que lhe traz satisfação. Não estou falando de diversão e de contentamento, é satisfação mesmo, dessas de mudar sua sintonia com o mundo.
Para quem está na fase de lista (somar o máximo de registros de diferentes espécies), uma boa passarinhada é quando você consegue ver uma grande variedade de aves. Quantas? Em lugares de áreas abertas, é fácil ver pelo menos 40 numa manhã. Em um fim de semana com um guia ornitológico dá para ver perto de 100 (se o foco for quantidade), e alguns dias em um lugar como o Tocantins podem render mais de 200 espécies.

Para quem está na fase de fotógrafo, uma boa passarinhada é conseguir uma foto linda, mesmo que seja de uma espécie comum. Aqui entram talento, experiência, boa vontade das aves, condições metereológicas e sorte. E mesmo num momento que você já tem muitas espécies registradas em fotos, sempre vai querer somar uma foto de uma espécie difícil. Podem ser vários passeios frustrados, mas quando consegue (e pode levar anos, ou nunca acontecer), é um grande troféu.
Também há as fases em que você sai com a câmera, mas sem um objetivo específico. O que aparecer, apareceu. A satisfação vem só do fato de sair para caminhar, atento a tudo ao redor, às vezes com o privilégio de passear em lugares silenciosos, apenas você e o vento, o som dos seus passos sobre a terra, o canto e o chamado das aves.
Como se preparar para ser um birdwatcher (e fotógrafo de aves)
A busca fotográfica pelas aves, seja em quantidade ou raridade, permite você ter os prazeres da caçada sem a covardia da morte de quem não pode se defender. E a caçada pode ser bastante ecológica: no tipo de passeio ideal você observa e fotografa a ave sem que ela interrompa seus afazeres e procura não perturbá-la.
O birdwatching também oferece o prazer da disciplina. Planejar o passeio, estudar a lista de aves, viajar para algum lugar, na noite anterior carregar baterias e pilhas, limpar a câmera, pegar o tripé, checar o plate, checar cartão, cartão reserva, separar o protetor solar, chapéu, repelente, picada para insetos (se você é sensível) deixar tudo separado e fácil para sair na manhã seguinte. Separar as roupas de trilha. Pode ser qualquer uma, mas a preferência é por calça comprida e cores discretas, ainda mais se você vai fotografar com outras pessoas que, caso contrário, podem te culpar de ser o espanta-passarinho. Como saio bastante, tenho essas roupas de tecidos tecnológicos (proteção UV, resistentes, macias, transpiram melhor). Tênis ou botas impermeáveis são outra boa aquisição porque até um passeio em um parque urbano com grama molhada pode te deixar com o desconforto de meias úmidas.

Madrugue e keep calm, duas dicas imbatíveis

Acordar às 5h ou 5h30 (ou até às 3h30) dependendo da época do ano e a que distância você está do local do passeio. Tomar café da manhã. Levar lanche, porque quem acorda às 5h, às 11h está morrendo de fome. Garrafa de água. Ou, se você esqueceu o lanche, ou tinha planejado voltar para almoçar, mas o passeio está bom, é possível viver com um pacote de bolachas ou nada. A empolgação faz coisas esquisitas com sua fome e cansaço.
O passeio começa com o dia amanhecendo. Em lugares de vegetação natural, em especial mata fechada, o que você vê das 6h às 11h não se compara ao resto do dia. As aves estão mais ativas, luz mais bonita, várias oportunidades para vê-las se alimentando. Talvez seja verdade até para as aves aquáticas grandes. Na África do Sul, garças que eu só via paradas, uma vez encontrei um bando de várias espécies pela manhã e elas estavam em uma atividade incrível de pesca, havia momentos que era preciso escolher em o que focar.
Uma grande dica para aproveitar mais o passeio é desacelerar. Seja a velocidade do carro, dos passos, dos pensamentos. No começo eu andava como se tivesse que chegar a algum lugar. E olhava em volta, se não havia aves, continuava andando. Hoje eu sei que quem não tem pressa vê muito mais.
Quando uma ave que você queria muito ver aparece, é inevitável a adrenalina subir. É gostoso e emocionante, mas fotografar aves é um desafio técnico (e também de sorte pelas condições de luz ambiente), e nem sempre a imagem fica como a gente gostaria.
Não se engane, não é uma atividade só para pessoas tranquilas. Na verdade, há muito espaço para loucuras, paixão, competição e generosidade
O birdwatching é um hobby bastante difundido no exterior, e usa principalmente o binóculo e a luneta. No Brasil  o birdwatching cresce graças às câmeras digitais e a internet. Em especial o extinto Aves do Brasil (www.aves.brasil.nom.br) e agora o Wikiaves (http://www.wikiaves.com.br) aceleraram a divulgação do birdwatching. Os brasileiros gostam de fotografar, compartilhar, exibir as fotos, elogiarem e serem elogiados.
Há mais de 10 mil espécies de aves no mundo. Muitos estrangeiros são loucos pelas listas, e viajam o mundo todo para ver as aves, ou dedicam uma dose considerável de tempo e dinheiro para ter um jardim bastante atrativo para as aves. Os birders, em especial os norte-americanos, podem ser muito competitivos.

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